MG: universidade desenvolve proposta de vacina contra novo coronavírus
Pesquisadores da Unifal-MG publicam artigo em revista de alto impacto com proposta inovadora de vacina contra novo coronavírus detectado em morcegos
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Siga noPesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), no Sul de Minas, publicaram um estudo na revista científica internacional Signal Transduction and Target Therapy, do grupo Nature, apresentando um método inovador de desenvolvimento de imunizantes utilizando a técnica de vacinologia reversa. A proposta foca em um novo coronavírus detectado em morcegos na China, com potencial de transmissão humana.
A pesquisa começou em 2021, motivada pela pandemia da Covid-19. Um grupo de alunos da pós-graduação, liderados pelo professor Leonardo Abreu Pires, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), identificou no SARS CoV 2 (da família do coronavírus) sequências de proteínas estruturais conservadas - ou seja, regiões genéticas que sofrem pouca mutação - e que, por isso, são consideradas promissores para a formulação de vacinas duradouras e eficazes.
Conforme explica Leonardo, diferentemente das abordagens tradicionais, que utilizam o vírus inteiro inativado, a vacinologia reversa atua a partir da análise do genoma do vírus, identificando apenas as partes essenciais para provocar uma resposta imune no organismo.
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No início do projeto, os pesquisadores estudavam o SARS CoV 2, causador da Covid-19. A equipe identificou regiões da chamada proteína Spike - a maior encontrada nos coronavírus - que permaneciam estáveis. Tal região pode ser utilizada para o desenvolvimento de vacinas capazes de prevenir a infecção por esse vírus e outros da mesma família. “Procurávamos o que fosse mais conservado, porque essas regiões tendem a não sofrer mutações, o que é ideal para uma vacina que continue eficaz mesmo com o surgimento de novas cepas”, completa Leonardo.
Em 2023, cientistas chineses divulgaram a descoberta de um novo coronavírus em morcegos com características genéticas semelhantes ao SARS-CoV-2. “Ele poderia potencialmente infectar os seres humanos, porque a chave de entrada dele nas células humanas é a mesma do causador da Covid (o receptor ACE2). Então, a partir do momento que os pesquisadores chineses disponibilizaram a sequência do genoma desse vírus (HKU5-CoV-2), identificamos que ele tem regiões capazes de se transformar em vacina ou diagnóstico”, descreve o pesquisador.
Detecção em morcegos
Segundo o professor, a resposta do metabolismo do morcego, quando infectado por algum vírus, bactéria ou fungo, é diferente de como o corpo humano responde. “Os morcegos são reservatórios de muitos micro-organismos ainda não identificados. Para eles, esses vírus não têm efeito de doença. É diferente, por exemplo, da Febre Amarela, que você consegue perceber que vai fazer mal para o macaco. O morcego consegue ter uma relação ‘amigável’ com o vírus”, esclarece Leonardo.
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Quais os riscos aos seres humanos?
O pesquisador esclarece que, potencialmente, as pessoas já possuem uma memória imunológica, seja por causa das vacinas ou de contatos prévios com a doença. Isso pode bloquear e evitar que o novo vírus infecte a população. “A maioria das pessoas já teve contato com a doença na pandemia, e muitas estão vacinas, ou seja, protegidas contra o novo coronavírus já que eles são semelhantes”, afirma.
Por outro lado, Leonardo Abreu diz que o vírus tem características suscetíveis a aparição de novas variantes, sendo necessário a vigilância. “Questões como desmatamento e aumento da temperatura podem fazer com que ele percorra as cidades. Mas, até então, o novo vírus não tem eficiência para uma pandemia, porque precisa replicar, ou seja, ar entre micro-organismos, e, no momento, está bem no morcego”, explica o professor.
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“É importante, no entanto, que trabalhemos na conscientização da vacinação, por mais que não tenhamos grandes surtos como em 2020 e 2021. A memória de proteção só é possível por meio da vacinação”, conclui o especialista.
Próximos os
O artigo sobre a proposta foi submetido à revista Signal Transduction and Targeted Therapy em março, revisado em abril e aceito no mesmo mês, o que demonstra a relevância científica do trabalho. A publicação está disponível gratuitamente no portal da revista neste link.
Conforme o pesquisador, o projeto segue em andamento, com a próxima etapa voltada à validação experimental, visando sua aplicação em futuras plataformas vacinais e estratégias de vigilância para prevenção de novas pandemias.